A EXISTÊNCIA DE DEUS NUMA ELEGIA DE LUÍS DE CAMÕES
No começo da elegia À Paixão de Cristo, Nosso Senhor, tem Luís de Camões estes versos que são um convite a descobrir Deus através da Criação; chama-Lhe um «altíssimo Ser, puro e divino, / que tudo pode, manda, move e cria» e «um Padre (Pai) grande».
Se quando contemplamos as secretas
causas por que o mundo se sustenta,
o revolver dos céus e dos planetas;
e se quando à memória se apresenta
este curso do Sol, que é tão medido
que um ponto só não mingua nem se aumenta;
aquele efeito, tarde conhecido,
da Lua, em ser mudável tão constante
que minguar e crescer é seu partido;
aquela natureza tão possante
dos céus, que tão conformes e contrários
caminham, sem parar um breve instante;
aqueles movimentos ordinários,
a que responde o tempo, que não mente,
cos efeitos da terra necessários;
se quando, enfim, revolve subtilmente
tantas coisas a leve fantasia,
sagaz, escrutadora e diligente;
vê bem, se da razão se não desvia,
o altíssimo Ser, puro e divino,
que tudo pode, manda, move e cria;
sem fim e sem começo, um ser contino;
um Padre grande, a quem tudo é possível,
por mais árduo que seja ao homem indino;
um saber infinito, incompreensível;
üa verdade que nas coisas anda,
que mora no visível e invisível.
domingo, 27 de janeiro de 2008
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