segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 09

AS CINCO VIAS DE S. TOMÁS DE AQUINO

As vias de S. Tomás para provar a existência de Deus (que temos intenção de colocar aqui) partem da mais elementar experiência humana: do movimento, da causalidade, da fragilidade (contingência) das coisas, dos graus do ser, da finalidade que se reconhece no mundo. Por outro lado, os estudiosos continuam a aceitá-las, sinal de que a genialidade do seu autor conseguiu colocá-las para lá das limitações da ciência sua contemporânea. Todavia não se pode ignorar que elas assentam numa linguagem filosófica de raiz aristotélica e por isso seria ilusão pensar que o leitor comum lhes percebe de imediato todo o sentido.
É importante poder provar a existência de Deus a partir da realidade mundana, pois isso significa que o mesmo Deus deixou sinais de si na sua obra: é isso que tem levado todos os Santos a cantar as maravilhas da criação. Lembre-se o salmo XIX que proclama que «os céus cantam a glória de Deus» e outros textos bíblicos como o Benedicite, o Canto do Sol de S. Francisco de Assis e textos de tantos outros homens e mulheres que se extasiaram na contemplação das maravilhas criadas.
Na Internet, é fácil de rastrear reflexões sobre as Cinco Vias. Eis um pouco do encontrámos na nossa breve busca:
Em inglês: http://uk.geocities.com/frege@btinternet.com/ontological/aquinasontological.htm
Em espanhol: http://200.16.86.50/digital/DERISI/DERISI-articulos/Derisi4-4.pdf
Em português: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/estudo/provas-da-existencia-de-deus.html
Em francês: http://www.salve-regina.com/Catechisme/Synthese_des_preuves_de_Dieu.htm
Em alemão: http://www.hoye.de/gott/gb5viae.pdf

domingo, 27 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 08

A EXISTÊNCIA DE DEUS NUMA ELEGIA DE LUÍS DE CAMÕES

No começo da elegia À Paixão de Cristo, Nosso Senhor, tem Luís de Camões estes versos que são um convite a descobrir Deus através da Criação; chama-Lhe um «altíssimo Ser, puro e divino, / que tudo pode, manda, move e cria» e «um Padre (Pai) grande».

Se quando contemplamos as secretas
causas por que o mundo se sustenta,
o revolver dos céus e dos planetas;

e se quando à memória se apresenta
este curso do Sol, que é tão medido
que um ponto só não mingua nem se aumenta;

aquele efeito, tarde conhecido,
da Lua, em ser mudável tão constante
que minguar e crescer é seu partido;

aquela natureza tão possante
dos céus, que tão conformes e contrários
caminham, sem parar um breve instante;

aqueles movimentos ordinários,
a que responde o tempo, que não mente,
cos efeitos da terra necessários;

se quando, enfim, revolve subtilmente
tantas coisas a leve fantasia,
sagaz, escrutadora e diligente;

vê bem, se da razão se não desvia,
o altíssimo Ser, puro e divino,
que tudo pode, manda, move e cria;

sem fim e sem começo, um ser contino;
um Padre grande, a quem tudo é possível,
por mais árduo que seja ao homem indino;

um saber infinito, incompreensível;
üa verdade que nas coisas anda,
que mora no visível e invisível.

sábado, 26 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 07

A EXISTÊNCIA DE DEUS PROVADA PELAS OBRAS DA CRIAÇÃO

Dois sonetos de Bocage

Bocage é um poeta muito maltratado. Esquece-se o seu melhor, que é a limpidez de intenções da sua última fase, a adesão sincera ao Cristianismo, o seu arrependimento alto e bom som proclamado: «saiba morrer o que viver não soube». Até porque o que na sua poesia não é isto era para rasgar: «rasga meus versos, crê na eternidade!».
A este soneto, «A existência de Deus provada pelas obras da criação», acrescento, como um complemento, o «Hino a Deus».


Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo:
O Sol e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que amima os ávidos amantes:

As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes:

O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, o tronco mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga:

E para crer num Braço, autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo.


HINO A DEUS

Pela voz do trovão corisco intenso
Clama que à Natureza impera um Ente,
Que cinge do áureo dia o véu ridente,
Que veste da atra noite o manto denso:

Pasmar na imensidade, é crer o imenso;
Tudo em nós o requer, o adora, o sente;
Provam-te olhos, ouvidos, peito e mente?
Númen, eu ouço, eu olho, eu sinto, eu penso!

Tua ideia, ó Grão-Ser, ó Ser divino,
Me é vida, se me dão mortal desmaio
Males que sofro e males que imagino:

Nunca impiedade em mim fez bruto ensaio;
Sempre (até das paixões no desatino)
Tua clemência amei, temi Teu raio.

Na imagem: estátua de Bocage em Setúbal, sua terra natal.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 06

Acabo hoje de colocar neste blogue o texto do P.e Mariano Pinho. Junto à mensagem a sua fotografia.

A toda esta multidão de provas quis Deus ajuntar outras de ordem superior, mais eficazes e convincentes, para que ninguém tenha desculpa da sua ignorância. Veio em auxílio da razão que tão facilmente se obnubila, com a revelação sobrenatural, com milagres, com profecias; veio Ele mesmo em pessoa à terra a encarnar, feito Deus-conosco, para que o pudéssemos ouvir, conversar e tratar e ao ausentar-se, deixou como testemunho imorredoiro da sua passagem pela terra e com missão de continuar a ensinar a sua doutrina, a Igreja.
A Igreja! Ela aí está a dizer, melhor que nenhuma outra obra na terra, que Deus existe; e lança à impiedade de todos os tempos este desafio: Des­truí-me, se sois capazes! Em vão o tentareis; fez-me Deus indestrutível, para através de todos os tempos e de todas as nações ficar a ensinar bem alto ao mundo quem é Deus.
Há uns cinquenta anos morria em Innsbruck um distinto Professor da Universidade. No leito da ago­nia expressava: «agora vou morrer; morro porém como católico fiel à Fé e à Igreja». Depois de rece­bidos os sacramentos, acrescentou: «sabedoria, honra, brilho, riqueza tudo isso é nada sem a fé; tudo isso é nada, se não vem de Deus e se não volta para Deus. Só a fé mantém o homem direito na vida e na morte e isto vale para os particulares e vale sobretudo para as famílias» [1].
No dia do nosso baptismo perguntaram-nos: «Crês num só Deus?» Creio! responderam por nós os padrinhos. Chegada a primeira comunhão solene repetiram-nos a pergunta e respondemos já por nós mesmos: Creio!
Hoje, hora de impiedade e de crime em que se divide o mundo em dois partidos: os que são por Deus e os que são contra Deus, põe-se-nos de novo e urgentemente a interrogação: Crês num só Deus? A resposta tem que ser um grito da alma e de todo o nosso ser; um brado que ecoe na terra toda como um protesto e suba ao céu em acto solene de repa­ração à glória de Deus ultrajada: Credo: Creio!

[1] Presspredigen, 4 Helft, 1913.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 05

E já acabaram as provas da existência de Deus? E o reino vegetal? e o reino animal ? Não nos metem eles eloquentemente pelos olhos dentro a necessi­dade de uma vida que não teve princípio, infinita?
O homem sobretudo, que em si condensa e completa o universo, é a mais retumbante prova da existência de Deus; é um novo céu a cantar muito mais alto que as estrelas, a glória do Criador. Por­que além de dizer o mesmo e melhor que qualquer outro ser, diz mais. Como é inteligente e espiritual quanto à alma, afirma a existência duma inteligên­cia e de um espírito infinito. Como é vontade livre, atesta que há uma vontade soberana, omnipotente.
Depois, as suas aspirações, nunca saciadas nesta vida, de verdade e felicidade exigem a existência de uma verdade plena, mais além; de uma felicidade plena, mais além. Por outro lado, no homem há uma lei que se lhe impõe a todo o momento, quer viva só, quer acompanhado: lei que lhe brada lá dentro na consciência, a cada instante, que o bem se deve praticar, o mal evitar. E como não foi ele que se im­pôs a si mesmo esta lei, porque então poderia revo­gá-la a seu talante, conclui-se que há um Supremo Legislador, o Autor da natureza humana: Deus.
Em vista de tantas provas óbvias e ao alcance de todos, que admira, se lhe venha juntar ainda outra: o consenso universal de todos os povos na existência de um Ser Supremo a quem todos os homens estão sujeitos? Sim: que insignificante o número dos que através das idades se lembraram de gritar que não há Deus, se os cotejarmos com os que afirmam a Deus?! No coro universal da humanidade essas vozes diluem-se de tal modo que mal chegam a desafinar no conjunto, ninguém nega a Deus — concluía Santo Agostinho — a não ser aquele a quem convinha que não existisse» [1]. Até Rousseau confirmava «que se alguém se esforça por rejeitar a existência de Deus é porque os seus costumes lho fazem temer» e dizia também: «ponde a alma em estado desejar que haja Deus e já não duvidareis da sua existência» [2].

[1] Tract., 70, in Joan.
[2] Cit. por Mgr. Rutten, Bispo de Liége, na Semaine religieuse de Namur.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 04

E então a nossa razão, perscrutando o porquê de toda a esta criação maravilhosa, ouve também e sobretudo que os céus anunciam a Bondade de Deus!
E o coração sente-se forçado a amá-lo.
Uma tradutora francesa das obras de Darwin enviava-lhe os parabéns por ele ter suprimido em sua evolução a ideia da criação. Não sabia que Darwin escrevera: «eu nunca fui ateu nem neguei nunca a existência de Deus»! O filósofo respondeu-lhe: «a teoria da evolução é perfeitamente compatível com a crença em Deus. A impossibilidade de conceber que este grande e admirável universo, com o nosso eu consciente, apareceu por acaso, parece-me o argumento principal da existência de Deus» [1].

[1] Cfr. D'Herbigny, Théologie du Révélé.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 03

Convém saber que o P.e Mariano, que foi um exilado da Primeira República, estudou em países como a Espanha, a Bélgica, a Áustria e a França. Era um homem muito culto. Pode-se verificar isto no site que lhe é dedicado em: http://causapadrepinho.home.sapo.pt/.

Mas não nos dizem, por isso, só que Deus existe, mas dizem-nos também quem Ele é. Dizem-nos que é Inteligência suma.
Um capi­tão de navio, depois de ter lido as publicações de Mathieu Fontaine Maury (1806-1873), fundador da oceanografia, escrevia-lhe em carta estas pala­vras que o grande sábio reproduzia com regozijo: «as vossas descobertas não nos ensinam só a seguir as rotas mais seguras e mais rápidas do oceano, mas ainda a conhecer as maiores manifestações da Sabedoria e Bondade do Omnipotente... Até ao dia em que tive conhecimento dos vossos trabalhos, atravessava os mares como um cego: não via, não concebia a magnifica harmonia daquele que vós chamais tão acertadamente a grande Ideia prima!» [1]
Os céus dizem-nos que foi mister essa Ideia prima, essa Inteligência Suma, para executar uma obra, por um lado tão complicada e ao mesmo tempo tão maravilhosa, pela sua ordem harmoniosa!
Quem não palpa a ordem magnífica que existe no universo inteiro! Com que precisão as leis que seguem o movimento dos astros se executam! Graças a essa precisão podemos dizer o dia, a hora, o minuto e o segundo em que a Lua, de aqui a mil anos, há-de ter um dos seus eclipses. À precisão e constância dessas leis sapientíssimas deveu o imortal Le Verrier (1811-1867) a descoberta importantíssima do planeta Neptuno; dobrado sobre a sua mesa de estudo, à força de cálculo, sem olhar para o céu, marcou o dia, a hora e o lugar em que devia aparecer o anunciado planeta. «Não me engano nem em 10 graus» — dizia ele. E lá apareceu, não chegando o erro nem a um grau: foi apenas 52 minutos [2].
Os corpos celestes formam as peças de um imenso relógio, por onde acertamos os nossos relógios e que tem sobre eles a vantagem de não se desconcertar, de não parar nunca, nem precisar de corda.
Ora, se para um simples relógio de bolso ou de pulso, a nossa razão reclama, absolutamente, um au­tor que tenha tido inteligência bastante para o fazer, como o não havia de reclamar, ao ver e estudar a grande máquina do universo? Por isso Balmes costumava dizer que trazia a prova da existência de Deus no bolso do colete: referia-se ao relógio.
Os céus anunciam a sabedoria de Deus! «No movimento regular dos planetas e dos seus satélites — diz Newton — assim como na sua direcção, no seu plano, no grau da sua velocidade rebrilha o sinal dos desígnios e o testemunho da acção de uma Causa que não é nem cega nem casual, mas que é sem dúvida altamente conhecedora da mecâ­nica e geometria» [3].
Se atentamos na multidão dos Astros — só na Via Láctea há 100.000 milhões de estrelas das quais 33.000 são luminosas [4]; se ponderarmos na sua grandeza — o volume do sol, por exemplo, é 1.279.267 vezes igual ao da terra e pesado mede 2.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de toneladas; se advertirmos a força velocíssima como se movem — a terra anda por hora 135.000 quilóme­tros — exclamamos necessariamente:
Os céus anunciam o imenso poder de Deus!
Se depois medirmos as distâncias que os separam uns dos outros — a estrela mais próxima de nós dista da Terra quarenta milhões de milhões de quilómetros; a estrela Polar 100 triliões de léguas, a estrela Capela 170 triliões de léguas; para lá chegar, em automóvel que andasse em linha recta 100 quilómetros à hora, precisávamos de milhares de séculos!!!... Como é certo que tudo isto nos diz que os céus anunciam a imensidade de Deus!

[1] Cfr. Eymieu, ob. cit., vol. I, pág.
[2] Ib. pág. 64.
[3] Em Zaccki, «Dio», pág. 391, cit. por Acção Cató­lica Portuguesa.
[4] Cfr. Ignacio Puig, S.J., Actualidades Científicas, pág. 24, 1938. Diz este autor: «Este número de estrelas vivas é tão exorbitante, como as letras contidas numa biblioteca de meio milhão de livros de 400 páginas cada um. Para ler esta biblio­teca, à razão de dez letras por segundo, sem interrupção de dia nem de noite, sem férias de nenhuma espécie, gastar-se-iam uns mil anos e para contar os 33.000 milhões de estrelas uns 200 anos, já que num segundo, quando muito, só se podem contar cinco estrelas. Ib., pág. 75