segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A EXISTÊNCIA DE DEUS - 02

Continuamos hoje a colocar aqui esta bela reflexão do P.e Mariano Pinho. Que verdades tão leviana e orgulhosamente esquecidas que ela nos garante!

«Oh! não, não corre o risco de ser estrangu­lada no arrojo de nossas tentativas cosmogónicas a antiga demonstração da existência de Deus: coeli enarrant gloriam Dei!» — exclamava como­vido Hervé Faye (1814-1901) no seu livro sobre a Origem do mundo (1).
Schiapparelli (1835-1910), o mais ilustre dos astrónomos italianos, escrevia em 1909, na sua obra Nei Cieli: «Quem se atreve ainda a falar de antagonismo entre a ciência e a fé? Se num dado momento alguém nisso pensou, foi sonho mau, agora desvanecido para sempre, à luz da verdade. E como poderia não ser favorável à Religião uma ciência como a Astronomia, cujo estudo pode chamar-se uma perpétua homenagem à Sabedoria suprema que governa o mundo; uma ciência na qual cada descoberta é um hino de admiração a jorrar de toda a alma sensível ao generoso e ao belo!?» (2)
John Herschel, filho do célebre astrónomo William Herschel, descobridor de Urano, escrevia: «não é verdade que (a ciência e a filosofia) comuniquem aos que a cultivam uma ideia exagerada de si mesmos e os levem a duvidar da imortalidade da alma e da revelação. Pelo contrário, levam-nos à conclusão oposta... estabelecem a existência de Deus e os principais atributos da Divindade sobre tais bases que a dúvida torna-se absurda, e o ateísmo ridículo (3).
Esta é a glória de Deus, não poder criar coisa nenhuma que não fique a dar vozes de que Deus existe, de que Deus é sábio, de que Deus é omnipotente, de que Deus é bom!
«Uma palhinha me basta — respondia Paulo Vanini aos que o interrogavam — uma palhinha me basta para provar a existência de Deus!» Sim; porque se qualquer coisa existe — existe a fonte desse ser; existe o Ser supremo (4).
E, se qualquer atomozinho chega para atestar a existência de Deus, quem mais imponentemente, mais marcialmente aclama essa existência do que a imensa multidão dos astros?
Ipse fecit nos et non ipsi nos: Ele é que nos fez, não fomos nós que nos fizemos a nós mes­mos (5), brada a uníssono esmagador toda essa enorme teoria de mundos. E que o não dissesse, dizíamo-lo nós. Não podia fazer-se a si mesmo quem não era e principiou a ser: teve o seu Feitor, o seu Criador. Se os astros possuíssem de si mes­mos o ser e existência, eram seres eternos, neces­sários, infinitamente perfeitos, pois nada haveria que lhes pudesse limitar a perfeição no ser.
Mas, pobres astros! Apesar da sua massa enor­me, apesar da sua multidão, apesar das distâncias que os separam uns dos outros, apesar da vertigem incessante e velocíssima com que se lançam pelos espaços... são limitados, são imperfeitos, são con­tingentes. Tiveram um autor.

1 Cit. por Eugène Duplessy, Apologétique, tom. I, pág. 49.
2 Cit. ib., pág. 82.
3 Ib., pág. 76.
4 Car quelque chose étant, il faut que quelqu'un soit, raciocinava Victor Hugo, Les Travailleurs de la Mer, II, 2.
5 Ps., XCIX, 3.

Sem comentários: